segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Mineirices...

Não tem galinha ciscando na cidade, mas tem televisão na roça. Não tem ar puro na cidade grande, mas na roça tem internet. Quem nasceu olhando para essa montanha, vendo a árvore florir amarela, de repente, no meio da mata, quem olhou todo dia para um regato correndo transparente e viu um tucano passar voando sobre sua cabeça, colorido como a natureza é, acha genial um celular liga-lo aos amigos. E quem abre a janela de seu quarto e não vê senão outra janela de fronte, fechada, sem ninguém, fica fascinado com o perder de vista que a imensidão do campo se abre. A experiência urbana chega aos cantos mais escondidos dessas paragens, chega de bicicleta motorizada, chega de parabólica ou modem. Mas o morador de cidade grande, para experimentar o rural, precisa deixar seu apartamento, enfrentar alguns quilômetros em carro fechado de ar condicionado, antes de vislumbrar uma porteira, uma lua cheia, ou uma rosca caseira.

É a vida, cheia de paradoxos. É a vida correndo solta, dando tudo o que pedimos, quando pedimos. E não tem nada mais dadivoso do que a natureza respondendo à simples pergunta: posso entrar? Claro que pode. A natureza trata bem quem lhe trata bem. Isso se chama receber, receber é mais do que abrir a porta. Receber é um sorriso com café. É um monte de palavras que muitas vezes não dá para entender, tão rápido são pronunciadas. Receber é uma das mineirices mais gostosas.

É mineiríssimo receber com café, com bolo, doce de leite. E, acima de tudo, com tempo. Esse o grande tesouro da roça: tempo. Tempo para olhar a planta crescer, para depois colher. Tempo para ver a vaca dar leite, o boi engordar, a galinha encher o papo. Quem vem para Minas vai reencontrar o tempo. O tempo de comer, sentado, à mesa, com uma prosa descontraída. O tempo sem pressa nenhuma. Porque a gente só corre para fazer e acabar logo aquilo que não gosta. Porque o que é gostoso não tem tempo, é para viver.

Quem deixa o conforto de seu apartamento para pôr o pé no pó de uma estrada de terra, hoje em dia, vai encontrar uma roça com fogão à lenha e mp5 ou 6. Na mesa, com toalha xadrez, não vai ter sousplat, talher para entrada, prato principal e sobremesa, o garçon deve ser um filho da casa e o cardápio todo está no fogão. Não é mais o comer por sobrevivência, é o receber por gosto. Esse gosto de comida fresquinha, que compartilha a mesma colher na panela aberta, e que lembra uma mãe, uma tia, uma vó, uma culinária quase feminina de tanto que é perfumada, isso é raiz, é cultura. E gastronomia é isso, o prazer sem culpa nenhuma.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Culinária de Roça é Gastronomia


Sim, comida de roça pode ser chamada de gastronomia. É só pensarmos que gastronomia envolve muito mais do que culinária e técnicas de cozinha, engloba a cultura – o vestir, o servir, o beber, o ouvir – modos diferentes de fazer a mesma coisa: dar o que comer. A roça serve comida diferente do que prepara um chef de alta gastronomia, claro. Ninguém está falando em alta gastronomia, que reporta para a sofisticação, apresentação e ingredientes gourmets. 

Mas, em um país que está buscando distinção e valorização de sua identidade, não podemos querer relegar a um canto menor da cozinha a culinária e cultura da roça, uma vez que essa é a origem, a raiz do brasileiro. Quando chefs como Alecs Atala, Mara Sales e até mesmo franceses brasileiros de coração acolhem os elementos culturais nativos e refletem sobre eles dando-lhes uma forma gourmet, não faz sentido duvidar que o termo possa também abranger a carne de panela, o tutu de feijão, o torresmo cozidos todos em um rústico fogão à lenha. 

Não podemos aceitar preconceito em relação ao simples e despojado serviço de restaurantes instalados na zona rural, que mantêm viva a memória e tradição das cozinhas coloniais, caipiras, nativas. Minas tem esse apelo de comida que interliga a agricultura, a indústria e o serviço, tudo pequeno e pessoal, com nomes de gente que olha nos olhos e responde ao “bom dia” de propósito: com o propósito de acolher. 

Gastronomia relaciona prazer de comer, prazer esse que pode ser encontrado também em pratos de vidro, toalhas de plástico ou conjunto de talheres despareados, quando a comida é boa, bem intencionada, vinda de bem perto, do quintal ou do vizinho. Não é tão importante que seja cozido com azeite, óleo ou gordura de porco, mas que seja sorridente até na lembrança. 

A comida de Minas abraça. E um festival de gastronomia em Gonçalves com comida de roça tem esse objetivo, o de abraçar a todos igualmente, trazer de volta a sua origem, o de reunir em torno da mesma mesa, para compartilhar, pessoas de todos os gostos, de todos os lugares.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Esse Festival vai dar o que degustar!

D. Neusa do Demeter da Roça - Foto de B. Leal
Sempre ouvi falar que o melhor de uma festa é o bastidor, o melhor da viagem é se programar, mas nunca isso foi tão verdadeiro. Nós estamos degustando todos os pratos do Festival, e está bão que só!!!

Confira as fotos que o Roberto Torrubia fez, em primeiríssima mão!!!


Prato do Janelas com Tramela - Foto de R. Torrubia

Guisado do Sauá - Foto R. Torrubia
Brenna Leal esteve lá, conferindo e fotografando o making off dos pratos... Que inveja...
Renata mostrando seu prato no Janelas com Tramela. Foto B. Leal
O movimento no fogão da D. Vilma - Por B. Leal

A galinhada de seu Zé Mosquito da Pizzaria Porão - Foto de R. Torrubia

Pedra Chanfrada, onde fica o Rest Ao Pé da Pedra
A redescoberta da roça: cozinhar onde a comida combina com a paisagem... montanhas, árvores, água correndo...
Seu Zé da Maria no forno - Foto de B. Leal
Tiana e seu prato no Armazem da Terra - Foto B. Leal

Prato do Couve com Coco - Foto de R. Torrubia

domingo, 14 de agosto de 2011

1º Festival de Gastronomia & Cultura da Roça - 2011



Nosso imaginário do que é uma vida simples e boa é o desenho de uma casinha, com fumaça saindo da chaminé, galinhas e vaquinhas no quintal, árvores, um rio na frente e uma montanha ao fundo. Qual criança não desenhou essa paisagem alguma vez na vida? Pois essa é Gonçalves, MG. E a fumaça da chaminé mostra que o fogão à lenha está cozinhando uma comida aconchegante e perfumada, que faz bem ao coração – porque tudo que traz alegria verdadeira faz bem para a saúde também.

Em Minas, o quintal tem pé de couve, galinhas ciscando, tem ovo caipira, horta fresquinha, e lá na cozinha, um fogão à lenha, com água quente à espera de preparar um bom café até chegar a hora da refeição quando essas coisas todas vêm para a mesa. Não tem nada mais Slow Food. Não tem nada mais gostoso.

Por esse motivo, porque a comida da roça está no nosso DNA, e nossos ancestrais brasileiros um dia cozinharam com as raízes e frutos da terra, e nos alimentaram com alegria e sem medo, porque a cada dia que se cria uma nova tecnologia e se distancia da vida simples, o brasileiro não perde sua origem, sua referência e imaginação, por tudo, enfim, em Gonçalves o 1º Festival de Gastronomia e Cultura da Roça pretende ser um canto de louvor a essa cultura.

A gastronomia, que resume a vida de toda cultura, é o centro desse cenário. Todos se uniram em volta da mesa generosa e mineira para fazer um Festival enfocando a comida da roça. Os restaurantes da terra com suas culinárias próprias, toques de chef ou de mãe, vão mostrar como interpretam esse tema, seus pratos de tradição ou a tradição revisitada. 

Venha enfiar sua colher nessas panelas, ver de perto e sem mistério como se faz uma boa comida da roça, com carinho, bons ingredientes, e celebrar conosco a volta da vida simples e possível. Gonçalves, a terra que encanta.